Quais são os
princípios em que alguém se deve basear para se considerar católico ou
não?
Deve ter em atenção os quatro pontos que se seguem:
1. Aceitar e seguir as Sagradas Escrituras do Antigo e
Novo Testamento vulgarmente conhecidas como Bíblia Sagrada - A Bíblia Sagrada é
património comum a qualquer Igreja que se considere cristã e, como tal, também
é aceite, lida e seguida como norma principal de fé pelas Igrejas católicas.
Uma Igreja que não siga a Bíblia não pode sequer ser considerada como cristã.
2. Proclamar as verdades de fé expressas nos Credos - a
fé de um católico é também declarada através do conhecimento e afirmação das
verdades enunciadas de forma resumida nos Credos. Os Credos têm sido usados
desde há mais de 1600 anos como meio de ensino para aqueles que pretendem
receber o baptismo e como crivo para distinguir crentes católicos de outros não
católicos.
3. Aceitar, viver e participar nos sete Sacramentos da
Igreja como sejam o Baptismo, Crisma, Eucaristia, Confissão, Unção dos Doentes,
Ordem e Casamento - A plenitude dos Sacramentos só existe nas Igrejas
católicas, dado que muitos dos irmãos protestantes e evangélicos aceitam em
geral apenas o baptismo e a santa ceia (Eucaristia). Os outros sacramentos não
são administrados ao povo ou, se o são, são designados como Ritos Sacramentais.
4. Integrar-se numa Igreja em que a sua forma de governo
seja exercida por bispos com Sucessão Apostólica e com a cooperação de
presbíteros (padres) e diáconos - Normalmente o governo da Igreja é exercido
por clérigos, ainda que existam Igrejas que são governadas por leigos (já que nestas
a figura de clérigos, pastores ou sacerdotes não existe). Entre as igrejas que
são governadas por clérigos, existem dois sistemas distintos: o governo
presbiteriano e o governo episcopal. O governo presbiteriano baseia-se num
sistema democrático em que as decisões são tomadas por maioria pelos membros do
órgão que rege a Igreja. Cada um destes membros é um presbítero (do grego,
ancião). Este sistema é muito popular entre as Igrejas protestantes. Quanto ao
governo episcopal, o mesmo é exercido pelos bispos, os sucessores dos Apóstolos,
e são estes que imprimem o rumo à Igreja socorrendo-se dos seus irmãos
participantes nas Ordens Sagradas: os presbíteros (vulgos padres) e os
diáconos. É este último sistema, com mais ou menos nuances, que é adoptado
pelas Igrejas católicas.
Sobre quem está fundada a Igreja?
Tem sido
afirmado que para ser católico o crente tem que reconhecer e aceitar a
autoridade do Papa, o responsável máximo da Igreja Católica Apostólica
Romana. Até que ponto isto é verdade? Qual a importância do Papa?
O título
Papa significa “pai” e é tradicionalmente atribuído ao Bispo de Roma. Nos
Evangelhos Cristo não emprega esse termo em relação a Pedro. Só a partir do
século VI começa a ser um tratamento habitual dado ao Bispo de Roma. Ou seja,
passaram pelo menos 500 anos desde que Cristo atribuiu o primado a Pedro. Mas
até ao século XI era um título que, apesar de começar a ser reservado para o
Bispo de Roma, poderia em geral ser empregue por qualquer bispo, especialmente
na Igreja do Oriente. Aliás, ainda hoje os presbíteros são familiarmente
chamados “padres”, (ou seja, “pais”) e também o líder da Igreja Ortodoxa Copta
de Alexandria é designado como “Papa”.
A Igreja
Católica Romana invoca tradicionalmente duas passagens dos Evangelhos para
desenvolver a sua teologia em torno de Pedro e do Papa:
- “Jesus fez a
seguinte pergunta aos seus discípulos: «Quem dizem os homens que é o Filho do
Homem?» Eles responderam: «Uns dizem que é João Baptista; outros, que é Elias;
e outros, que é Jeremias ou algum dos profetas.» Perguntou-lhes de novo: «E
vós, quem dizeis que Eu sou?» Tomando a palavra, Simão Pedro respondeu: «Tu és
o Messias, o Filho de Deus vivo.» Jesus disse-lhe em resposta: «És feliz,
Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que to revelou, mas
o meu Pai que está no Céu. Também Eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta Pedra
edificarei a minha Igreja, e as portas do Abismo nada poderão contra ela.
Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na terra ficará ligado
no Céu e tudo o que desligares na terra será desligado no Céu.»” (Mateus
16,13-19)
- “Depois de
terem comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: «Simão, filho de João, tu amas-me
mais do que estes?» Pedro respondeu: «Sim, Senhor, Tu sabes que eu sou deveras
teu amigo.» Jesus disse-lhe: «Apascenta os meus cordeiros.» Voltou a
perguntar-lhe uma segunda vez: «Simão, filho de João, tu amas-me?» Ele
respondeu: «Sim, Senhor, Tu sabes que eu sou deveras teu amigo.» Jesus
disse-lhe: «Apascenta as minhas ovelhas.» E perguntou-lhe, pela terceira vez:
«Simão, filho de João, tu és deveras meu amigo?» Pedro ficou triste por Jesus
lhe ter perguntado, à terceira vez: ‘Tu és deveras meu amigo?’ Mas
respondeu-lhe: «Senhor, Tu sabes tudo; Tu bem sabes que eu sou deveras teu
amigo!» E Jesus disse-lhe: «Apascenta as minhas ovelhas.” (João 21,15-17)
A partir
daqui se tem dito que Pedro assumiu um papel inigualável em comparação com os
outros Apóstolos, que se tornou o líder da Igreja e, por consequência, se
tornou no primeiro Papa.
Lendo os
textos com atenção podemos verificar que efectivamente foi dado a Pedro um papel
de destaque e de liderança. Mas estará a Igreja fundada sobre Pedro? Pelo
contexto parece ser forçado e até abusivo concluir isto. Iria Cristo fundar a
Sua Igreja sobre um único indivíduo, por mais competente que fosse? Diz a
Escritura: “maldito o homem que confia noutro homem.” Curiosamente logo a
seguir à instituição da Igreja sobre a Pedra ou Rocha, Cristo chama a Pedro
“Satanás” por este se mostrar incapaz de entender os planos de Deus
relativamente à Sua morte. Então sobre o quê o sobre quem terá Cristo fundado a
Sua Igreja? Cristo fundou a Sua Igreja não sobre Pedro mas sobre aquilo que
Pedro DECLAROU. É como se Cristo dissesse: “Pedro, o teu nome é pedra e será
sobre essa rocha que tu declaraste que Eu fundarei a Minha assembleia/Igreja.” Ou
seja, Cristo fundou a Sua Igreja sobre a verdade expressa por Pedro num momento
de inspiração: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo.” Cristo fundou a Sua
Igreja sobre a verdade que Jesus é o Cristo, o Messias esperado pelos Judeus e
o Filho do Deus Altíssimo, partilhando com Este da Sua Divindade e dignidade,
pois também é Deus.
Vemos também
noutra passagem da Escritura que a Igreja não foi fundada apenas e só sobre um
indivíduo mas em todo o colégio ou conjunto dos Apóstolos: “edificados sobre o
alicerce dos Apóstolos e dos Profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo
Jesus.” (Efésios 2,20). Se Pedro é uma Pedra, os seus colegas são-no também
mas Cristo é sempre a Pedra principal. Mais uma vez, a Igreja é
essencialmente fundada sobre Cristo.
Pode a
Igreja subsistir sem o Papa?
Se realmente
compreendemos que a Igreja está fundada sobre Cristo e sobre a Verdade que Ele
viveu e anunciou, então a resposta é sim. Não faria sentido que Cristo
colocasse nas mãos de um homem, sujeito a falhas, erros e pecados, a
sobrevivência da sua Igreja.
Sem querer
denegrir nem menosprezar a importância do Papa enquanto líder da maior
organização religiosa terrena, há também pelo menos um pormenor histórico que
merece a nossa atenção para vermos até que ponto é importante ou não a
existência do Papa. Os Papas têm vindo desde há vários séculos a ser escolhidos
por um grupo especial de eleitores conhecido como Colégio Cardinalício
composto, como o nome indica, por Cardeais. Sempre que um Papa morre, o Colégio
reúne-se e decide escolher um novo sucessor de Pedro. O período entre a morte
de um Papa e a entronização de outro pode demorar várias semanas ou meses.
Houve períodos da história em que a escolha de um novo Papa demorou
literalmente anos (três anos no caso de Gregório X eleito em 1271). O que
sucedeu entretanto? A Igreja de Roma deixou de existir? A Igreja perdeu o seu
poder? Ficou em standby ou congelada? Obviamente que não. Os fiéis continuaram
a reunir-se e a participar como habitualmente nos Sacramentos presididos pelos
clérigos. Por aqui se vê que a unidade e a subsistência da Igreja não está num
indivíduo meramente humano mas em Cristo e na comunidade de fiéis no seu todo.
Outro facto
que deve fazer pensar é o período histórico (1378 a 1417) em que existiram três
Papas ao mesmo tempo, sendo que lutaram entre si pelo reconhecimento e pela
abdicação dos outros. Que exemplo é este de unidade e de integridade no topo da
Igreja romana? Foi por isso que a Igreja se desagregou ou dividiu? Obviamente
que não. Portanto, leva-nos a razão a concluir que o papel do Papa não é
essencial. O Papa será importante para muitos por uma questão histórica e como
foco da unidade da Igreja de Roma mas não poderá sê-lo do ponto de vista
teológico.
Igreja católica?
Igrejas católicas?
Cristo
fundou apenas uma e só uma Igreja, não fundou várias. Cristo olha para os Seus
discípulos como pertencentes a um único rebanho porque Ele é o único pastor, o
pastor por excelência. Nesse sentido, a Igreja fundada por Cristo é
necessariamente una (porque é apenas uma e a sua unidade deriva da unidade da
Santíssima Trindade), é santa (porque é santificada pelo sacrifício único de
Cristo e pela acção santificadora do Espírito Santo), é católica (porque se
dirige a todos os povos e a todo o mundo e nada lhe falta para ser completa) e
é apostólica (porque fundada sobre os Apóstolos e por ser enviada a anunciar a
Boa Nova de Cristo).
Então como
se explica a existência de várias Igrejas e grupos religiosos cristãos e afins?
Primeiro do que tudo porque Deus concedeu ao homem total liberdade, mesmo até
para dividir a Sua Igreja. Segundo, a divisão da Igreja é aparente porque,
espiritualmente todos os verdadeiros crentes em Cristo estão unidos e sujeitos
ao mesmo e único Senhor. A existência de diversas denominações não implica que existam
várias Igrejas. Podemos dizer que a Igreja é um único organismo, é uma única
árvore e com diversos ramos. Cada uma das denominações é um ramo e todos os
ramos, apesar de diferentes entre si, partilham das mesmas características e
são alimentados pela mesma seiva de Deus.
A Igreja
Católica Apostólica Romana é a única Igreja verdadeira?
Isso seria o
mesmo que dizer que apenas um dos ramos, por maior que fosse, seria o único
verdadeiro excluindo então todos os outros. Absurdo, não? Culturalmente nos
países latinos tem sido passada a ideia de que a única Igreja verdadeira é a
Igreja Católica Romana e que todas as outras são Protestantes, dissidentes ou
seitas. Existe nesta ideia um grande desconhecimento que por vezes chega a raiar
o fanatismo. A Igreja Católica de Roma é, claro, católica. Mas a Igreja
católica não é (apenas) a Igreja de Roma. Igreja católica e Igreja Católica
Romana não são sinónimos. A Igreja Romana é a maior de todas as Igrejas
católicas, tanto em número de crentes como na influência social exercida mas
não é a ÚNICA Igreja católica. Existem outras Igrejas católicas, ramos da
Igreja Católica Apostólica de Cristo, que detêm a mesma legitimidade, a mesma
autoridade apostólica e a mesma essência que a Igreja de Roma. Exemplos disto
são as Igrejas ortodoxas, as Igrejas velho-católicas e as igrejas anglicanas.
Mas não são
todas elas uma cisão da Igreja de Roma?
Não. Há
Igrejas que existem desde o tempo dos Apóstolos e que não resultaram da
separação de nenhuma outra. É o caso das Igrejas ortodoxas. Ainda assim, mesmo
que muitas delas tenham surgido por separação de Roma, o que resulta de um
movimento de separação não significa que isso torne ilegítima a Igreja que dele
surge. Há que verificar se a Igreja mantem ou não os traços de catolicidade
indicados no princípio deste artigo. Para aqueles que julgam que nenhuma Igreja
é legítima por resultar de uma separação ou cisma, pense no seguinte: o
primeiro cisma da Igreja ocorreu em 1054, o chamado Grande Cisma. Desse cisma
resultou a separação entre a Igreja do Ocidente e a Igreja do Oriente.
Lembremos que foi por iniciativa da Igreja de Roma que o Ocidente virou costas
ao Oriente. Parece estranho e até chocante mas há que dizê-lo: a Igreja
Católica Apostólica Romana é a primeira Igreja dissidente do Cristianismo.
Um outro
Catolicismo
A Igreja de
Cristo não é monolítica nem se esgota no catolicismo vivido em Roma. Outras
formas há de viver a fé cristã católica e outras Igrejas católica existem
espalhadas pelo mundo que oferecem aos seus fiéis tudo e nada menos do que
aquilo que a Igreja Romana oferece.
Mas aquilo
que oferece a Igreja de Roma é sobejamente conhecido. Que oferecem as outras
Igrejas católicas de diferente? Que formas alternativas há de viver enquanto
católico?
Nas
restantes Igrejas católicas os sacerdotes podem casar-se e constituir família,
tal como o fizeram a generalidade dos Apóstolos e nomeadamente Pedro, o que
permite que os seus clérigos sejam pessoas mais felizes, mais realizadas e mais
conhecedoras da realidade e das dificuldades do comum dos humanos.
No restante
mundo católico o dogmatismo e o centralismo não são tão marcados, pelo que
existe uma maior liberdade de pensamento e de opinião.
Existe em
geral uma maior abertura à discussão de problemas actuais para os quais a Sociedade
necessita de respostas e dos quais os cristãos não se podem excluir como sejam
o aborto, o divórcio, a homossexualidade e o papel da mulher na Igreja e no
mundo.
Há outras
liturgias/ritos usadas pelas Igrejas católicas que exaltam de forma belíssima a
Pessoa de Cristo e que proclama a Sua glória e Majestade sem caírem numa
adoração tristonha ou deprimente.
Nas outras
Igrejas católicas a Eucaristia é também uma festa e é um momento de partilha calorosa
com os outros irmãos. Pode ser um momento em que, através das orações sinceras
e emocionadas e dos cânticos fervorosos, o Espírito Santo se manifesta e se faz
presente e operante entre o Povo de Deus trazendo libertação, cura, alento e
restauração.