segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
Um Outro Catolicismo
Quais são os princípios em que alguém se deve basear para se considerar católico ou não?
Deve ter em atenção os quatro pontos que se seguem:
1. Aceitar e seguir as Sagradas Escrituras do Antigo e
Novo Testamento vulgarmente conhecidas como Bíblia Sagrada - A Bíblia Sagrada é
património comum a qualquer Igreja que se considere cristã e, como tal, também
é aceite, lida e seguida como norma principal de fé pelas Igrejas católicas.
Uma Igreja que não siga a Bíblia não pode sequer ser considerada como cristã.
2. Proclamar as verdades de fé expressas nos Credos - a
fé de um católico é também declarada através do conhecimento e afirmação das
verdades enunciadas de forma resumida nos Credos. Os Credos têm sido usados
desde há mais de 1600 anos como meio de ensino para aqueles que pretendem
receber o baptismo e como crivo para distinguir crentes católicos de outros não
católicos.
3. Aceitar, viver e participar nos sete Sacramentos da
Igreja como sejam o Baptismo, Crisma, Eucaristia, Confissão, Unção dos Doentes,
Ordem e Casamento - A plenitude dos Sacramentos só existe nas Igrejas
católicas, dado que muitos dos irmãos protestantes e evangélicos aceitam em
geral apenas o baptismo e a santa ceia (Eucaristia). Os outros sacramentos não
são administrados ao povo ou, se o são, são designados como Ritos Sacramentais.
4. Integrar-se numa Igreja em que a sua forma de governo
seja exercida por bispos com Sucessão Apostólica e com a cooperação de
presbíteros (padres) e diáconos - Normalmente o governo da Igreja é exercido
por clérigos, ainda que existam Igrejas que são governadas por leigos (já que nestas
a figura de clérigos, pastores ou sacerdotes não existe). Entre as igrejas que
são governadas por clérigos, existem dois sistemas distintos: o governo
presbiteriano e o governo episcopal. O governo presbiteriano baseia-se num
sistema democrático em que as decisões são tomadas por maioria pelos membros do
órgão que rege a Igreja. Cada um destes membros é um presbítero (do grego,
ancião). Este sistema é muito popular entre as Igrejas protestantes. Quanto ao
governo episcopal, o mesmo é exercido pelos bispos, os sucessores dos Apóstolos,
e são estes que imprimem o rumo à Igreja socorrendo-se dos seus irmãos
participantes nas Ordens Sagradas: os presbíteros (vulgos padres) e os
diáconos. É este último sistema, com mais ou menos nuances, que é adoptado
pelas Igrejas católicas.
Sobre quem está fundada a Igreja?
Tem sido
afirmado que para ser católico o crente tem que reconhecer e aceitar a
autoridade do Papa, o responsável máximo da Igreja Católica Apostólica
Romana. Até que ponto isto é verdade? Qual a importância do Papa?
O título
Papa significa “pai” e é tradicionalmente atribuído ao Bispo de Roma. Nos
Evangelhos Cristo não emprega esse termo em relação a Pedro. Só a partir do
século VI começa a ser um tratamento habitual dado ao Bispo de Roma. Ou seja,
passaram pelo menos 500 anos desde que Cristo atribuiu o primado a Pedro. Mas
até ao século XI era um título que, apesar de começar a ser reservado para o
Bispo de Roma, poderia em geral ser empregue por qualquer bispo, especialmente
na Igreja do Oriente. Aliás, ainda hoje os presbíteros são familiarmente
chamados “padres”, (ou seja, “pais”) e também o líder da Igreja Ortodoxa Copta
de Alexandria é designado como “Papa”.
A Igreja
Católica Romana invoca tradicionalmente duas passagens dos Evangelhos para
desenvolver a sua teologia em torno de Pedro e do Papa:
- “Jesus fez a seguinte pergunta aos seus discípulos: «Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?» Eles responderam: «Uns dizem que é João Baptista; outros, que é Elias; e outros, que é Jeremias ou algum dos profetas.» Perguntou-lhes de novo: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» Tomando a palavra, Simão Pedro respondeu: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo.» Jesus disse-lhe em resposta: «És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que to revelou, mas o meu Pai que está no Céu. Também Eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Abismo nada poderão contra ela. Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na terra ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na terra será desligado no Céu.»” (Mateus 16,13-19)
- “Depois de terem comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: «Simão, filho de João, tu amas-me mais do que estes?» Pedro respondeu: «Sim, Senhor, Tu sabes que eu sou deveras teu amigo.» Jesus disse-lhe: «Apascenta os meus cordeiros.» Voltou a perguntar-lhe uma segunda vez: «Simão, filho de João, tu amas-me?» Ele respondeu: «Sim, Senhor, Tu sabes que eu sou deveras teu amigo.» Jesus disse-lhe: «Apascenta as minhas ovelhas.» E perguntou-lhe, pela terceira vez: «Simão, filho de João, tu és deveras meu amigo?» Pedro ficou triste por Jesus lhe ter perguntado, à terceira vez: ‘Tu és deveras meu amigo?’ Mas respondeu-lhe: «Senhor, Tu sabes tudo; Tu bem sabes que eu sou deveras teu amigo!» E Jesus disse-lhe: «Apascenta as minhas ovelhas.” (João 21,15-17)
A partir
daqui se tem dito que Pedro assumiu um papel inigualável em comparação com os
outros Apóstolos, que se tornou o líder da Igreja e, por consequência, se
tornou no primeiro Papa.
Lendo os
textos com atenção podemos verificar que efectivamente foi dado a Pedro um papel
de destaque e de liderança. Mas estará a Igreja fundada sobre Pedro? Pelo
contexto parece ser forçado e até abusivo concluir isto. Iria Cristo fundar a
Sua Igreja sobre um único indivíduo, por mais competente que fosse? Diz a
Escritura: “maldito o homem que confia noutro homem.” Curiosamente logo a
seguir à instituição da Igreja sobre a Pedra ou Rocha, Cristo chama a Pedro
“Satanás” por este se mostrar incapaz de entender os planos de Deus
relativamente à Sua morte. Então sobre o quê o sobre quem terá Cristo fundado a
Sua Igreja? Cristo fundou a Sua Igreja não sobre Pedro mas sobre aquilo que
Pedro DECLAROU. É como se Cristo dissesse: “Pedro, o teu nome é pedra e será
sobre essa rocha que tu declaraste que Eu fundarei a Minha assembleia/Igreja.” Ou
seja, Cristo fundou a Sua Igreja sobre a verdade expressa por Pedro num momento
de inspiração: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo.” Cristo fundou a Sua
Igreja sobre a verdade que Jesus é o Cristo, o Messias esperado pelos Judeus e
o Filho do Deus Altíssimo, partilhando com Este da Sua Divindade e dignidade,
pois também é Deus.
Vemos também
noutra passagem da Escritura que a Igreja não foi fundada apenas e só sobre um
indivíduo mas em todo o colégio ou conjunto dos Apóstolos: “edificados sobre o
alicerce dos Apóstolos e dos Profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo
Jesus.” (Efésios 2,20). Se Pedro é uma Pedra, os seus colegas são-no também
mas Cristo é sempre a Pedra principal. Mais uma vez, a Igreja é
essencialmente fundada sobre Cristo.
Pode a Igreja subsistir sem o Papa?
Se realmente
compreendemos que a Igreja está fundada sobre Cristo e sobre a Verdade que Ele
viveu e anunciou, então a resposta é sim. Não faria sentido que Cristo
colocasse nas mãos de um homem, sujeito a falhas, erros e pecados, a
sobrevivência da sua Igreja.
Sem querer
denegrir nem menosprezar a importância do Papa enquanto líder da maior
organização religiosa terrena, há também pelo menos um pormenor histórico que
merece a nossa atenção para vermos até que ponto é importante ou não a
existência do Papa. Os Papas têm vindo desde há vários séculos a ser escolhidos
por um grupo especial de eleitores conhecido como Colégio Cardinalício
composto, como o nome indica, por Cardeais. Sempre que um Papa morre, o Colégio
reúne-se e decide escolher um novo sucessor de Pedro. O período entre a morte
de um Papa e a entronização de outro pode demorar várias semanas ou meses.
Houve períodos da história em que a escolha de um novo Papa demorou
literalmente anos (três anos no caso de Gregório X eleito em 1271). O que
sucedeu entretanto? A Igreja de Roma deixou de existir? A Igreja perdeu o seu
poder? Ficou em standby ou congelada? Obviamente que não. Os fiéis continuaram
a reunir-se e a participar como habitualmente nos Sacramentos presididos pelos
clérigos. Por aqui se vê que a unidade e a subsistência da Igreja não está num
indivíduo meramente humano mas em Cristo e na comunidade de fiéis no seu todo.
Outro facto
que deve fazer pensar é o período histórico (1378 a 1417) em que existiram três
Papas ao mesmo tempo, sendo que lutaram entre si pelo reconhecimento e pela
abdicação dos outros. Que exemplo é este de unidade e de integridade no topo da
Igreja romana? Foi por isso que a Igreja se desagregou ou dividiu? Obviamente
que não. Portanto, leva-nos a razão a concluir que o papel do Papa não é
essencial. O Papa será importante para muitos por uma questão histórica e como
foco da unidade da Igreja de Roma mas não poderá sê-lo do ponto de vista
teológico.
Igreja católica? Igrejas católicas?
Cristo
fundou apenas uma e só uma Igreja, não fundou várias. Cristo olha para os Seus
discípulos como pertencentes a um único rebanho porque Ele é o único pastor, o
pastor por excelência. Nesse sentido, a Igreja fundada por Cristo é
necessariamente una (porque é apenas uma e a sua unidade deriva da unidade da
Santíssima Trindade), é santa (porque é santificada pelo sacrifício único de
Cristo e pela acção santificadora do Espírito Santo), é católica (porque se
dirige a todos os povos e a todo o mundo e nada lhe falta para ser completa) e
é apostólica (porque fundada sobre os Apóstolos e por ser enviada a anunciar a
Boa Nova de Cristo).
Então como
se explica a existência de várias Igrejas e grupos religiosos cristãos e afins?
Primeiro do que tudo porque Deus concedeu ao homem total liberdade, mesmo até
para dividir a Sua Igreja. Segundo, a divisão da Igreja é aparente porque,
espiritualmente todos os verdadeiros crentes em Cristo estão unidos e sujeitos
ao mesmo e único Senhor. A existência de diversas denominações não implica que existam
várias Igrejas. Podemos dizer que a Igreja é um único organismo, é uma única
árvore e com diversos ramos. Cada uma das denominações é um ramo e todos os
ramos, apesar de diferentes entre si, partilham das mesmas características e
são alimentados pela mesma seiva de Deus.
A Igreja Católica Apostólica Romana é a única Igreja verdadeira?
Isso seria o
mesmo que dizer que apenas um dos ramos, por maior que fosse, seria o único
verdadeiro excluindo então todos os outros. Absurdo, não? Culturalmente nos
países latinos tem sido passada a ideia de que a única Igreja verdadeira é a
Igreja Católica Romana e que todas as outras são Protestantes, dissidentes ou
seitas. Existe nesta ideia um grande desconhecimento que por vezes chega a raiar
o fanatismo. A Igreja Católica de Roma é, claro, católica. Mas a Igreja
católica não é (apenas) a Igreja de Roma. Igreja católica e Igreja Católica
Romana não são sinónimos. A Igreja Romana é a maior de todas as Igrejas
católicas, tanto em número de crentes como na influência social exercida mas
não é a ÚNICA Igreja católica. Existem outras Igrejas católicas, ramos da
Igreja Católica Apostólica de Cristo, que detêm a mesma legitimidade, a mesma
autoridade apostólica e a mesma essência que a Igreja de Roma. Exemplos disto
são as Igrejas ortodoxas, as Igrejas velho-católicas e as igrejas anglicanas.
Mas não são todas elas uma cisão da Igreja de Roma?
Não. Há
Igrejas que existem desde o tempo dos Apóstolos e que não resultaram da
separação de nenhuma outra. É o caso das Igrejas ortodoxas. Ainda assim, mesmo
que muitas delas tenham surgido por separação de Roma, o que resulta de um
movimento de separação não significa que isso torne ilegítima a Igreja que dele
surge. Há que verificar se a Igreja mantem ou não os traços de catolicidade
indicados no princípio deste artigo. Para aqueles que julgam que nenhuma Igreja
é legítima por resultar de uma separação ou cisma, pense no seguinte: o
primeiro cisma da Igreja ocorreu em 1054, o chamado Grande Cisma. Desse cisma
resultou a separação entre a Igreja do Ocidente e a Igreja do Oriente.
Lembremos que foi por iniciativa da Igreja de Roma que o Ocidente virou costas
ao Oriente. Parece estranho e até chocante mas há que dizê-lo: a Igreja
Católica Apostólica Romana é a primeira Igreja dissidente do Cristianismo.
Um outro Catolicismo
A Igreja de
Cristo não é monolítica nem se esgota no catolicismo vivido em Roma. Outras
formas há de viver a fé cristã católica e outras Igrejas católica existem
espalhadas pelo mundo que oferecem aos seus fiéis tudo e nada menos do que
aquilo que a Igreja Romana oferece.
Mas aquilo
que oferece a Igreja de Roma é sobejamente conhecido. Que oferecem as outras
Igrejas católicas de diferente? Que formas alternativas há de viver enquanto
católico?
Nas
restantes Igrejas católicas os sacerdotes podem casar-se e constituir família,
tal como o fizeram a generalidade dos Apóstolos e nomeadamente Pedro, o que
permite que os seus clérigos sejam pessoas mais felizes, mais realizadas e mais
conhecedoras da realidade e das dificuldades do comum dos humanos.
No restante
mundo católico o dogmatismo e o centralismo não são tão marcados, pelo que
existe uma maior liberdade de pensamento e de opinião.
Existe em
geral uma maior abertura à discussão de problemas actuais para os quais a Sociedade
necessita de respostas e dos quais os cristãos não se podem excluir como sejam
o aborto, o divórcio, a homossexualidade e o papel da mulher na Igreja e no
mundo.
Há outras
liturgias/ritos usadas pelas Igrejas católicas que exaltam de forma belíssima a
Pessoa de Cristo e que proclama a Sua glória e Majestade sem caírem numa
adoração tristonha ou deprimente.
Nas outras
Igrejas católicas a Eucaristia é também uma festa e é um momento de partilha calorosa
com os outros irmãos. Pode ser um momento em que, através das orações sinceras
e emocionadas e dos cânticos fervorosos, o Espírito Santo se manifesta e se faz
presente e operante entre o Povo de Deus trazendo libertação, cura, alento e
restauração.
Subscrever:
Mensagens (Atom)